domingo, 21 de abril de 2019

Os lençóis...

"Mais um retrato fixo, de um olhar que não estava ali..."
Envolvo, entrelaço a alma nos segredos rompantes
que se estremecem e me implodem. 
Quero palavras, as procuro, 
busco nos cantos escondidos de dentro dos nós.
Sem sentido para fazer fluir, tento fugir, correr e mesmo amarrada 
Busco alívio no existir, no me saber existente talvez?

Eu sangrei, eu sangro. 
Deixo a cama, os lençóis brancos cobertos do sangue vermelho 
que sai de dentro de mim quente, pelos seus dedos. 
A arte precisa me salvar. 
A poesia precisa me salvar. 
Não consigo me mover, não parei de sangrar. 
Quero que a arte responda, trazendo alívio. 

Tenho sede das palavras que não posso mais dizer 
que ficam vãs pelo caminho, pelo trajeto que precisou ser interrompido.
Vejo do lado de dentro do espelho o reflexo dos lençóis manchados. 
Sangro dores antigas, velhas e conhecidas. 
Sangue novo em "odres velhos", rasgos novos em lençóis antigos.
Ele é quente, fresco, assusta.
Te assusta e me envergonha...

O menino querer

O querer é um menino que percebe o tempo como uma linha que passa diante dos seus olhos, enquanto vê tudo se esmorecer, se desgastar.

Ele vê o que vê com os seus olhos de menino e com a vida, que o deixa sujo e abandonado, no meio do caminho, angustiado, machucado.

Tentam olhar nos olhos do menino querer e explicar todos os "porque não" que ele precisa entender, e ele não entende... porque ele ainda é... querer.

Ele cansado, tão menino, se mantém sentado, abraça suas pernas, curva sua cabeça e chora. Chora porque não entende, porque é um menino, e é... querer.

Arrasta seus esfolados vivos na areia do caminho, tenta se levantar, andar, se animar, se limpar... mas fica ali, parado, barrado, só sendo... querer.

Ele de novo chora, não entende e não se conforma, o menino querer... mesmo machucado sabe que poderia andar, se ali não o mandassem ficar.

Sabe que conseguiria sair e abraçar... mesmo se seus esfolados encostassem em esfolados outros, dentro de um abraço... porque ele só é... querer.

Ele, porém, fica pelo caminho de novo, sem entender, sem saber, querendo ir mesmo quando pedem para ele ficar.

Ao olhar para a estrada, se senta novamente, abraça suas pernas e espera... "Tudo dói, mas uma hora...", ele diz, "Uma hora eu sei que eu vou... e vai sarar..."

17/04/2019