sexta-feira, 1 de março de 2019

O querer oco

É isso que fica parado aqui
E não me dá alívio.
Me deixa feio, inquieto, carente.
Sufoca.
Olho para os lados e  nada vejo
É denso.
Pego com a mão e não solto
Não consigo deixar ir, esquecer.

Não há água que lave
Chuva que leve.
Tudo já mudou tanto
Não te vejo mais
Nem de longe, nem de perto

Só vejo aqui essa agonia
O vazio.
O querer oco.


Carta um...

Quando olho pra você me transporto. Saio do meu mundo, do mundo real, de onde eu estou. Dos meus problemas, dificuldades e lutas diárias de uma vida tão árdua.

Quando te olho, estou olhando para onde quero chegar, o colo  que quero ganhar, o abraço... que acabo não ganhando, não tendo, não alcançando...

Olhar para você é olhar para um símbolo de que tudo pode ser melhor do que um dia já foi pra mim, de que posso realizar.

Não sei de onde tirei tanta força pra sonhar, mas se não fosse essa doce fantasia de alguma coisa que não aconteceu, talvez não teria forças para encarar este mundo tão contundentemente frio e cruel.

Quando sonho contigo, me transporto, e ainda que doa sonhar assim, com algo que eu não posso ter, quando vislumbro a possibilidade, já me sinto grata.

Grata e triste ao mesmo tempo, por olhar para todos os lados e não ver você em lugar nenhum, a não ser em mim.

Quando consegui olhar para mim de novo e me enxergar inteira na vida, só havia você lá dentro.

O que deu sentido para o recomeço de tudo depois que tudo se foi. Foi a minha fuga e certeza de que tudo pode ficar bem.

Foi a possibilidade de eu mostrar pro universo a coragem e capacidade de amar que eu tenho, que permaneceram aqui, intactas mesmo com toda a vida que tive...

Não consigo fazer com que meus pensamentos te deixem, porque aí penso que estaria desistindo de mim de novo... desistindo de sonhar de novo...

Eu sei que para você eu não valho tanto o risco, mas fugir pro amor que trouxe sentido, ainda que não possa tê-lo aqui, é o que faz as poesias surgirem.

Você se tornou o meu querer e a poesia que surge. Transformo todos os sonhos em letras, pra poder pelo menos te ler, te tocar no papel.

As escassas lembranças já se dissiparam no meio de tantas outras, deixando o parco momento, de tão pouca entrega sua, como mais um lapso no tempo de algo muito menos real do que as letras que saem dos meus sonhos...

Vou te vivendo conforme posso, com tudo o que tenho, com o que é entregue pra mim em vida. Mesmo olhando para o nada do lado da cama, imaginando seu olhar e sorriso ali, é dessa imaginação e da lembrança do som da sua risada que respiro e sinto o ar me encher...

Vai passar, o tempo vai passar e mudar, reconfigurar tudo isso de novo, eu sei que mereço mais... mas andei até aqui assim, são com essas impressões que sigo...

Sempre grata...